quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Desafios do uso da televisão e do vídeo na escola

Estamos deslumbrados com o computador e a Internet na escola e vamos deixando de lado a televisão e o vídeo, como se já estivessem ultrapassados, não fossem mais tão importantes ou como se já dominássemos suas linguagens e sua utilização na educação.
A televisão, o cinema e o vídeo - os meios de comunicação audiovisuais - desempenham, indiretamente, um papel educacional relevante. Passam-nos continuamente informações, interpretadas; mostram-nos modelos de comportamento, ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e privilegiam alguns valores em detrimento de outros.
A informação e a forma de ver o mundo predominantes no Brasil provêm fundamentalmente da televisão. Ela alimenta e atualiza o universo sensorial, afetivo e ético que crianças e jovens – e grande parte dos adultos - levam a para sala de aula. Como a TV o faz de forma mais despretensiosa e sedutora, é muito mais difícil para o educador contrapor uma visão mais crítica, um universo mais mais abstrato, complexo e na contra-mão da maioria como a escola se propõe a fazer.
A TV fala da vida, do presente, dos problemas afetivos - a fala da escola é muito distante e intelectualizada - e fala de forma impactante e sedutora - a escola, em geral, é mais cansativa. O que tentamos contrapor na sala de aula, de forma desorganizada e monótona, aos modelos consumistas vigentes, a televisão, o cinema, as revistas de variedades e muitas páginas da Internet o desfazem nas horas seguintes. Nós mesmos como educadores e telespectadores sentimos na pele a esquizofrenia das visões contraditórias de mundo e das narrativas (formas de contar) tão diferentes dos meios de comunicação e da escola.
Na procura desesperada pela audiência imediata, fiel e universal, os meios de comunicação hiper-exploram nossas emoções, fantasias, desejos, medos e aperfeiçoam continuamente estratégias e fórmulas de sedução e dependência. Passam com incrível facilidade do real para o imaginário, aproximando-os em fórmulas integradoras, como nas telenovelas e nos reality-shows como o Big-Brother e semelhantes.
Diante desse panorama, os educadores costumamos contrapor a diferença de funções e da missão da televisão e da escola. A TV somente entretém enquanto que a escola educa. Justamente porque a televisão não diz que educa o faz de forma mais competente. Ela domina os códigos de comunicação e os conteúdos significativos para cada grupo: os pesquisa, os aperfeiçoa, os atualiza. Nós educadores fazemos pequenas adaptações, damos um verniz de modernidade nas nossas aulas, mas fundamentalmente continuamos prendendo os alunos pela força e os mantemos confinados em espaços barulhentos, sufocantes, apertados e fazendo atividades pouco atraentes. Quem educa quem a longo prazo?
Como a televisão se comunica

Os meios de comunicação, principalmente a televisão, desenvolvem formas sofisticadas multidimensionais de comunicação sensorial, emocional e racional, superpondo linguagens e mensagens, que facilitam a interação, com o público. A TV fala primeiro do "sentimento" - o que você sentiu", não o que você conheceu; as idéias estão embutidas na roupagem sensorial, intuitiva e afetiva.

A televisão e o vídeo partem do concreto, do visível, do imediato, próximo, que toca todos os sentidos. Mexem com o corpo, com a pele, as sensações e os sentimentos - nos tocam e "tocamos" os outros, estão ao nosso alcance através dos recortes visuais, do close, do som estéreo envolvente.

Isso nos dá pistas para começar na sala de aula pelo sensorial, pelo afetivo, pelo que toca o aluno antes de falar de idéias, de conceitos, de teorias. Partir do concreto para o abstrato, do imediato para o mediato, da ação para a reflexão, da produção para a teorização.

A eficácia de comunicação dos meios eletrônicos, em particular da televisão, se deve também à capacidade de articulação, de superposição e de combinação de linguagens diferentes - imagens, falas, música, escrita - com uma narrativa fluida, uma lógica pouco delimitada, gêneros, conteúdos e limites éticos pouco precisos, o que lhe permite alto grau de entropia, de flexibilidade, de adaptação à concorrência, a novas situações. Num olhar distante tudo parece igual, tudo se repete, tudo se copia; ao olhar mais de perto, por trás da fórmula conhecida, há mil nuances, detalhes que introduzem variantes adaptadoras e diferenciadoras.

A força da linguagem audiovisual está em que consegue dizer muito mais do que captamos, chegar simultaneamente por muitos mais caminhos do que conscientemente percebemos e encontra dentro de nós uma repercussão em imagens básicas, centrais, simbólicas, arquetípicas, com as quais nos identificamos ou que se relacionam conosco de alguma forma.[2]

Televisão e vídeo combinam a dimensão espacial com a sinestésica, ritmos rápidos e lentos, narrativas de impacto e de relaxamento. Combinam a comunicação sensorial com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. A integração começa pelo sensorial, o emocional e o intuitivo, para atingir posteriormente o racional. Exploram o voyeurismo, e mostram até a exaustão planos, ângulos, replay de determinadas cenas, situações, pessoas, grupos, enquanto ignoram a maior parte do que acontece no cotidiano. Mostram a exceção, o inusitado, o chocante, o horripilante, mas também o terno – um bebê desamparado, por exemplo. Destacam os que detêm atualmente algum poder – político, econômico ou de identificação/projeção: artistas, modelos, ídolos esportivos. Quando o perdem, desaparecem da tela.[3]

A organização da narrativa televisiva, das situações, idéias e valores é muito mais flexível e contraditória do que a da escola. As associações são feitas por semelhança, por contraste, muitas vezes estéticos. As temáticas evoluem de acordo com o momento, a audiência, o impacto.

Os temas são pouco aprofundados, explorando os ângulos emocionais, contraditórios, inesperados. Passam a informação em pequenas doses (de forma compactada), organizadas em forma de mosaico (rápidas sínteses de cada assunto) e com apresentação variada (cada tema dura pouco e é ilustrado).

A televisão estabelece uma conexão aparentemente lógica entre mostrar e demonstrar. Mostrar é igual a demonstrar, a provar, a comprovar. Uma situação isolada converte-se em situação paradigmática, padrão, universal. Ao mesmo tempo, o não mostrar equivale a não existir, a não acontecer. O que não se vê, perde existência.[4]

Estratégias de utilização da TV e do vídeo

Diante dessas linguagens tão sofisticadas a escola pode partir delas, conhecê-las, ter materiais audiovisuais mais próximos da sensibilidade dos alunos. Gravar materiais da TV Escola, alguns dos canais comerciais, dos canais da TV a cabo ou por satélite e planejar estratégias de inserir esses materiais e atividades que sejam dinâmicas, interessantes, mobilizadoras e significativas.[5]

A televisão e a Internet não são somente tecnologias de apoio às aulas, são mídias, meios de comunicação. Podemos analisá-las, dominar suas linguagens e produzir, divulgar o que fazemos. Podemos incentivar que os alunos filmem, apresentem suas pesquisas em vídeo, em CD ou em páginas WEB - páginas na Internet. E depois analisar as produções dos alunos e a partir delas ampliar a reflexão teórica.

A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto. Fazer re-leituras de alguns programas em cada área do conhecimento, partindo da visão que os alunos têm, e ajudá-los a avançar de forma suave, sem imposições nem maniqueísmos (bem x mal).[6]

Conclusão

A televisão, o cinema, a Internet e demais tecnologias nos ajudam a realizar o que já fazemos ou que desejamos. Se somos pessoas abertas, nos ajudam a comunicar-nos de forma mais confiante, carinhosa e confiante; se somos fechadas, contribuem para aumentar as formas de controle. Se temos propostas inovadoras, facilitam a mudança.

Educar com novas tecnologias é um desafio que até agora não foi enfrentado com profundidade. Temos feito apenas adaptações, pequenas mudanças. Agora, na escola, no trabalho e em casa, podemos aprender continuamente, de forma flexível, reunidos numa sala ou distantes geograficamente, mas conectados através de redes de televisão e da Internet. O presencial se torna mais virtual e a educação a distância se torna mais presencial. Os encontros em um mesmo espaço físico se combinam com os encontros virtuais, a distância, através da Internet e da televisão.

Estamos aprendendo, fazendo. Os modelos de educação tradicional não nos servem mais. Por isso é importante experimentar algo novo em cada semestre. Fazer as experiências possíveis nas nossas condições concretas. Perguntar-nos no começo de cada semestre: “O que estou fazendo de diferente neste curso? O que vou propor e avaliar de forma inovadora?” Assim, pouco a pouco iremos avançando e mudando.

Podemos começar por formas de utilização das novas tecnologias mais simples e ir assumindo atividades mais complexas. Experimentar, avaliar e experimentar novamente é a chave para a inovação e a mudança desejadas e necessárias.

Caminhamos para uma flexibilização forte de cursos, tempos, espaços, gerenciamento, interação, metodologias, tecnologias, avaliação. Isso nos obriga a experimentar pessoal e institucionalmente a integração de tecnologias audiovisuais, telemáticas (Internet) e impressas.

Vivemos uma época de grandes desafios no ensino focado na aprendizagem. E vale a pena pesquisar novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do sensorial, emocional, racional e do ético; do presencial e do virtual; de integração da escola, do trabalho e da vida.

José Manuel Moran

Integração de mídias digitais na educação

Integração de mídias digitais na educação


1. Introdução
O título deste artigo, em uma primeira análise, mostra-se bastante futurista e talvez utópico se considerarmos a situação de nossas escolas, cujos mecanismos de controle disciplinar pautam-se em atribuir ao professor o papel centrado em “dar aula”, transmitindo as informações, marcado pela presença quase que única do livro didático descontextualizado e pelos conteúdos memorizados e repetidos até a sua fixação. Isto é o que caracteriza resumidamente nossa escola tradicional, definida muitas vezes como um repositório de conteúdos pedagógicos, trabalhados de forma rígida, fechada e puramente teórica.

Como então falarmos de integração de mídias digitais em um contexto como este?
Seria possível encontrarmos um cenário mais positivo para o que já relatamos?

Para tentarmos responder estas perguntas, apresentaremos situações de nossa vivência como formadores em diversos programas de capacitação continuada, promovidos pelo Ministério da Educação e pelas inúmeras contribuições que a cada dia, mais e mais professores, nos compartilham nas listas de discussões que
participamos.

Em um primeiro momento, parece ser muito pretensioso pensarmos no encontro de tecnologias digitais convivendo harmoniosamente em ambientes escolares, com professores e alunos articulados e usando-as no desenvolvimento de projetos. No entanto, temos acompanhado experiências significativas de professores que, juntamente com seus alunos, usam os diversos recursos midiáticos em suas atividades escolares, e articulam-se em seus projetos de trabalho.

Com as experiências vividas, constatamos que, ao ser a tecnologia como uma ferramenta pedagógica, é possível mudar o ambiente de aprendizagem para facilitar a construção do conhecimento do educando, tornar o ensino cooperativo e, principalmente, propiciar uma postura interdisciplinar do professor (Fazenda, 1995).

Assim, se a tecnologia for usada como uma aliada na criação de um processo educacional; melhor ela complementará as habilidades individuais e auxiliará na construção de um mundo que dá um sentido maior para a vida.

Adicionando a esses dados, salientamos que vivemos em um mundo em profunda crise social, moral e afetiva. É urgente trabalhar a favor de uma nova sociedade e acreditarmos que a mudança nos trabalhos pedagógicos com a integração das
tecnologias no processo educacional pode ajudar a resgatar o ser humano para o afloramento de uma sociedade mais consciente e justa. No entanto, compreendemos que se faz necessário uma capacitação contínua dos educadores
para atuarem na criação de novos ambientes de aprendizagem, procurando desfazer as desigualdades e as exclusões digitais e sociais.

Neste sentido o objetivo deste texto é apresentar alguns exemplos de projetos desenvolvidos por professores de escolas públicas brasileiras que integram as mídias digitais no trabalho pedagógico com seus alunos, e visam à melhoria do processo de ensino e de aprendizagem. Os exemplos, apresentados de forma sucinta, são parte de uma pequena amostra das inúmeras iniciativas realizadas no
Brasil, que podem ser utilizados como referência para entendermos que é possível fazermos um novo caminhar pedagógico com o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC, esperando com isto incentivar o trabalho de outros professores interessados em provocar mudanças na escola, podendo inclusive recontextualizar tais exemplos para sua realidade escolar.

2. Iniciativas de Integração de Mídias na Escola

Descrevemos a seguir algumas ações realizadas por professores de escolas públicas que, com dedicação e competência, transformaram o seu fazer pedagógico, ao articular os conceitos disciplinares às atividades discentes juntamente com o uso integrado das tecnologias de informação e comunicação. O que será descrito é uma pequena amostra, mas que muito nos alegra e encoraja para continuarmos na busca por uma escola melhor. Procurarmos ser sucintos, mas esperamos deixar a essência de cada projeto como fonte de inspiração para novos vôos.

2.1 Projeto: Trabalhando com as NTIC: Deletando o Chato, Salvando o Significativo

Este projeto foi desenvolvido pela professora Rejane Arruda Sampaio (rejanecrede20@yahoo.com.br), do estado do Ceará, e tinha como objetivo utilizar as TIC para romper com as práticas tradicionais e com o ensino mecânico e autoritário. Envolveu toda a comunidade escolar em um trabalho de capacitação docente para o uso da tecnologia, bem como, os alunos da escola para a construção da página da escola na Internet. Assim, um grupo de professores, capacitados e empenhados, passou a desenvolver, juntamente com os alunos, atividades que visam à construção desta página. Para tanto, começaram com o acesso ao projeto político-pedagógico, a história da escola e sua inserção em um
contexto mais amplo, o que possibilitou que acessassem os arquivos e fotos, recuperando a compreensão sobre a identidade da escola.

Dentre os recursos empregados, podemos citar o acesso freqüente à Internet; o uso dos recursos e aplicativos do computador para a construção da página e de outras produções; a socialização das atividades desenvolvidas por meio da Rádio Escolar no recreio; a participação de bate-papos propiciando a interação com alunos de outras escolas que desenvolviam experiências semelhantes; demais atividades de coleta de dados como entrevistas, troca de e-mails, palestras, atividades artísticas e culturais.

As atividades do projeto foram realizadas individualmente e em grupo, e tinham como ambientes a sala de aula, o laboratório de ciências e de informática, o auditório, o pátio da escola e o centro de multimeios. Nesta iniciativa, destaca-se a participação coletiva, na qual alunos e professores puderam interagir juntos na construção de um projeto coletivo. Cabe destacar que cada professor procurou, durante a realização das atividades, articular e relacionar os conteúdos disciplinares, de maneira que estes pudessem ser formalizados e estudados significativamente pelos alunos.

2.2 Projeto: Lixo e o Caminho da Cidadania

Este projeto foi desenvolvido para que os alunos pudessem construir uma consciência ecológica, e desenvolver um convívio escolar pautado em valores e atitudes, adotando-se uma postura crítica e utilizando-se das TIC no desenvolvimento de projetos que tivessem realizações concretas para mudar a realidade local. Esta iniciativa foi desenvolvida pela professora Luzia Cleide Siqueira (luzcleide@hotmail.com), do estado de Pernambuco, em Afogaso da Ingazeira, e despertou nos alunos uma visão mais crítica dos problemas ambientais e do exercício da cidadania.

Entre as atividades realizadas, destacamos as dinâmicas de grupo realizadas, as
pesquisas na Internet, a entrevista com pessoas ligadas diretamente à usina de
reciclagem municipal. No laboratório de informática foi possível elaborar textos no
Word e inserir figuras do clip-art. Utilizaram também o e-mail para divulgação de
mensagens de conscientização ambiental, as quais foram impressas e distribuídas
na escola e na comunidade local. Foram ainda oportunizadas discussões acerca
dos vídeos selecionados da TV-ESCOLA relacionados ao tema, permitindo que os
alunos entendessem o problema do lixo em uma abrangência nacional, não
apenas de característica local.

Com todas as atividades desenvolvidas relacionadas ao tema “Lixo”, foi possível montar um conjunto significativo de materiais impressos e digitais sobre o meioambiente, disponíveis na escola para auxiliar na conscientização das pessoas para os cuidados com a natureza visando à diminuição dos impactos ambientais.

2.3. Projeto: O Jornal Mural Trazendo Notícias do Mundo

Este projeto nasceu de um desejo pessoal da professora Divaneide Maria Albuquerque Reis (divamariareis@hotmail.com), da Bahia, de resgatar a leitura em sua escola. A criação do “Jornal Mural” pôde estimular o estudo sobre a leitura e do valor de exercitá-la com prazer, e usá-la em diferentes tipos de textos, criados pelos próprios alunos nas oficinas de redação, com o uso ou não das TIC.

Este projeto foi desenvolvido por alunos do ensino médio e envolveu um grupo de professores da escola que orientou seus alunos a pesquisarem o tema Leitura no contexto local e brasileiro. Isto fez com que alunos utilizassem a Internet, realizassem visitas ao jornal local e procurassem identificar e conhecer os diversos meios de comunicação. Na construção do jornal, os alunos puderam ter contato com diversos recursos midiáticos incluindo a própria Internet, softwares educacionais e aplicativos, músicas, imprensa falada e escrita, entre outros.

Atualmente, a escola está disponibilizando notícias diariamente no denominado
“Jornal Mural”, trabalho este que envolve alunos e professores que se revezam para mantê-lo atualizado. Efetuar a leitura do “Jornal Mural”, exposto em um dos corredores da escola, é agora uma atividade prazerosa.

Finalmente, com a construção do jornal, outros temas estão sendo abordados e
relacionados aos conteúdos disciplinares das diversas turmas envolvidas com o
projeto.

2.4. Projeto: Literatura de Cordel

Este Projeto foi realizada pela professora Flávia Santana da Silva Barros (flaviassb@hotmail.com) do Recife, com 15 alunos da 3ª série do Ensino Fundamental I na Escola Monsenhor Francisco Salles da rede estadual. A intenção da professora era de criar uma situação de aprendizagem em que os alunos fariam o estudo do “Cordel” e neste processo estariam analisando os substantivos, adjetivos, número de estrofes, versos, tipos de linguagem, etc. Este projeto enfatizou a interpretação e a produção de textos e, nesse processo, os alunos produziram uma peça teatral e histórias em quadrinhos. Ao estudar os tipos de cordéis, que retratam as pessoas que fazem parte da nossa história, os alunos fizeram pesquisa sobre o Lampião e assistiram ao filme O Auto da Compadecida, com o intuito de analisar o comportamento dos cangaceiros, vestimentas e a forma de relacionamento. A professora usou o contexto do filme também para discutir com os alunos a área geográfica em que ocorreu a história, as característica das pessoas do local, e aproveitou a curiosidade e o envolvimento dos alunos sobre as questões que estavam estudando a partir da leitura dos cordéis.

Este estudo culminou numa produção coletiva - o cordel da turma - e foi interessante, pois cada aluno elaborou uma estrofe para o colega, comentando sob algo engraçado ou uma característica peculiar. Para a produção final do cordel da turma, a professora conseguiu um computador, cedido pela direção da escola, para que os alunos pudessem digitar seus textos, uma vez que esta escola não possuía laboratório de informática.
Esta experiência mostra que a professora conseguiu desenvolver, com muita criatividade, dinâmicas de trabalho integrando outras mídias a partir daquilo que tinha disponível no seu contexto de atuação. Também a diretoria demonstrou flexibilidade ao disponibilizar um computador para a produção final do cordel. Este projeto contagiou a escola, uma vez que a turma socializou suas produções ao apresentarem uma peça teatral a respeito de suas pesquisas.

3. Considerações Gerais

Estas experiências mostram que não existe uma única maneira de desenvolver projetos integrando as diferentes mídias. O projeto em cada contexto pode expressar a sua identidade, a qual reflete a intencionalidade pedagógica do professor e as características dos alunos e seus interesses, bem como a realidade escolar. Isto significa que existem vários fatores que interferem no desenvolvimento do projeto, que podem favorecer a diversidade de situações de aprendizagem.

Muitas vezes o professor se depara com uma situação precária em relação à tecnologia, tal como aconteceu com o projeto Literatura de Cordel, tendo apenas um computador para trabalhar com 15 alunos. Caso a escola tivesse um maior número de computadores, o projeto poderia integrar outros recursos como, por exemplo, o editor de texto e a Internet e, nesta situação, os alunos poderiam explorar outras formas de expressar suas idéias e de buscar informações, além daquelas que foram realizadas. Por outro lado, podemos constatar que a clareza de objetivos da professora permitiu diante dos recursos disponíveis desenvolver ações voltadas para o aprendizado contextualizado dos alunos.

Em relação aos demais exemplos é possível observar que a Internet foi utilizada em suas três dimensões de aprendizagens: pesquisa, para a busca de informações e da comunicação assíncrona (e-mail) e síncrona (bate-papo) e representação de conhecimento, no processo de construção de páginas. Isto significa que para a utilização dos recursos computacionais, como de outras mídias, é fundamental que o professor tenha conhecimento técnico e, ao mesmo tempo, entenda suas implicações pedagógicas para orientar novos encaminhamentos que permitam ao aluno compreender o que está fazendo (Valente, 2003).
Um outro aspecto interessante que ficou evidenciado nestes exemplos de projetos é que ao utilizar a tecnologia os alunos resgataram em suas ações, a história, a arte e a cultura. Os projetos mostraram uma forma de aprender compromissada na elaboração de um produto em que os autores (os alunos) tiveram oportunidade de aprender fazendo, exercitando a cidadania.

Estes projetos lançaram sementes, para alguns professores que sentiam-se sozinhos no seu contexto de atuação, para realizar esta nova empreitada. No entanto, os professores estão dando passos importantes que mostram muitas possibilidades e também que estas ações contagiaram outros profissionais das escolas que possivelmente vão poder gerar novas sementes e integrar as diferentes mídias, conteúdos e os protagonistas do processo educacional. Finalizando esta breve análise, transcrevemos um extrato do registro textual de uma professora, que expressa um momento importante da sua reflexão sobre a vivência na atividade prática, ao desenvolver projetos com alunos:

“Esse projeto serviu para ver que sozinhos fica difícil desenvolver um trabalho qualitativo. Se temos um planejamento, parceiros, apoio da equipe pedagógica material adequado, realizamos um trabalho sério sem stress, com funcionalidade. Só podemos fazer isso através de planejamento, de alianças, dentro da escola. Foi difícil para mim ter que fazer um trabalho sem ter parceiros, para redefinirmos ações, dividirmos as angústias, etc. Serviu também para eu ver que não basta um projeto bem elaborado, temos que fazê-lo, com os pés no chão, contextualizado com o envolvimento dos alunos, pois deles depende o sucesso do nosso trabalho”. (Barros, F, Relatório Individual, 2003).

Esta reflexão revela que no processo de reconstrução da prática pedagógica, voltada para o trabalho com projetos, e que integram mídias, conteúdos, competências, é necessário ter o apoio da comunidade escolar e a parceria entre os profissionais. Esta parceria pode ser construída no compartilhamento de experiências, reflexões e sentimentos durante a realização do projeto, uma que vez que nesta situação prática o professor precisa recriar estratégias pedagógicas, que contemplam as necessidades e os interesses dos alunos. O trabalho por projetos requer planejamento, o qual deve funcionar, segundo Almeida (2002), como uma espinha dorsal que ajuda o professor a conservar o foco de sua intencionalidade, ao mesmo tempo em que precisa assumir uma postura de flexibilidade para integrar os elementos que emergem do movimento da aprendizagem dos alunos durante a realização do projeto.

Klaus Schlünzen Junior
Maria Elisabette Brisola Brito Prado